Naquele momento, pensei
razoavelmente em me matar. Ouvir os pássaros gorgolejarem pela manhã enquanto
também ouço a gaveta rangir ao ser aberta a procura de uma faca.
A vizinha grita repreendendo
seu filho no quintal. Assusto-me perante a surpresa , mas lembro novamente que
estou sozinho. Lembro também de todos os motivos pelos quais cheguei até a frente
dessa gaveta entreaberta, com a mesa logo atrás de mim a espera do meu tombo
fatal.
As lembranças me fazem
derramar uma lágrima ardente. Ouço de novo a vizinha repreender o menino, logo
afasto a cortina bege para o lado e vejo a
velha mulher segurar seu filho adentrando a casa de madeira. Volto a
olhar a gaveta entreaberta, suspiro. Apóio minhas mãos na pia e abaixo a cabeça
com a revolução desesperada guerreando em minha cabeça.
De repente ouço o rangido de
um motor desesperado, quase impaciente se aproximando de minha casa. O carro
derrapa com o freio brusco. E continuo a encarar a pia, que já abriga um mar de
lágrimas enquanto olho de novo para as facas reluzentes prateadas.
A porta do carro bate, os
degraus da área são pisoteados raivosamente. A porta é escancarada e continuo a
mirar o prateado dos talheres bem como o mar lacrimejante.
Senti o cheiro, e as
lembranças se transformam em um aroma doce. Sorrio incrédulo comigo mesmo.
Rapidamente a minha cabeça se
vira e vê os olhos que me iludiram com a dor, mas que na verdade só vieram me
salvar, me trazer a realidade, assim encostada na porta trazendo a minha salvação.
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