terça-feira, 17 de abril de 2012

Alguém Se Importa, Nem Que Seja no Final


Naquele momento, pensei razoavelmente em me matar. Ouvir os pássaros gorgolejarem pela manhã enquanto também ouço a gaveta rangir ao ser aberta a procura de uma faca.
A vizinha grita repreendendo seu filho no quintal. Assusto-me perante a surpresa , mas lembro novamente que estou sozinho. Lembro também de todos os motivos pelos quais cheguei até a frente dessa gaveta entreaberta, com a mesa logo atrás de mim a espera do meu tombo fatal.
As lembranças me fazem derramar uma lágrima ardente. Ouço de novo a vizinha repreender o menino, logo afasto a cortina bege para o lado e vejo a  velha mulher segurar seu filho adentrando a casa de madeira. Volto a olhar a gaveta entreaberta, suspiro. Apóio minhas mãos na pia e abaixo a cabeça com a revolução desesperada guerreando em minha cabeça.
De repente ouço o rangido de um motor desesperado, quase impaciente se aproximando de minha casa. O carro derrapa com o freio brusco. E continuo a encarar a pia, que já abriga um mar de lágrimas enquanto olho de novo para as facas reluzentes prateadas.
A porta do carro bate, os degraus da área são pisoteados raivosamente. A porta é escancarada e continuo a mirar o prateado dos talheres bem como o mar lacrimejante.
Senti o cheiro, e as lembranças se transformam em um aroma doce. Sorrio incrédulo comigo mesmo.
Rapidamente a minha cabeça se vira e vê os olhos que me iludiram com a dor, mas que na verdade só vieram me salvar, me trazer a realidade, assim encostada na porta trazendo a minha salvação.


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